Lisboa e Vale do Tejo

Lisboa e Vale do Tejo

A PraçaJun 29, '20

Muito antes de existirem supermercados e hipermercados, era a zona saloia, nos arredores de Lisboa, sobretudo a Oeste, a grande despensa da capital. Os seus habitantes, que viviam essencialmente da agricultura e da criação de animais, chegavam manhã cedo à cidade montados em burros para vender os seu produtos frescos, não sem antes pagarem os respetivos impostos de consumo nas antigas Barreiras Fiscais montadas nas Portas de Benfica ou na Calçada de Carriche.

Os tempos são outros mas a antiga zona saloia continua a ser profícua em bons produtos, sobretudo frescos, como o provam alguns bons projetos de agricultura sustentável que ali estão sedeados, casos da Quinta do Arneiro (Mafra) ou o Hortelão do Oeste (Torres Vedras), entre outros. Da mesma forma, o vento que sempre soprou forte nesta região trouxe-lhe uma grande tradição de moleiros que projetos como o das (excelentes) farinhas Paulino Horta, em Alenquer, vão mantendo viva. 

Mais a sul, mas ainda no domínio de Lisboa e Vale do Tejo, os produtos da Quinta do Poial (Palmela) também têm fama merecida. Aliás, no além-Tejo que ainda não é, tecnicamente, Alentejo, não faltam produtos de excelência, casos do Queijos de Azeitão DOP ou da Maçã Riscadinha de Palmela DOP. E o que dizer do peixe fresco de Setúbal ou Sesimbra? Basta uma visita rápida aos respetivos mercados para ficar com o apetite aberto para o almoço.

E por falar em almoço, tempo para esmiuçar a gastronomia da região. Nos compêndios do receituário lisboeta tanto se encontram pratos que devem a sua origem à grande tradição de tabernas e cafés da capital, casos do bife à Café, dos ovos verdes, do bacalhau à Brás ou da meia desfeita do dito, como outros que têm mais a ver com a vida piscatória, como a caldeirada à fragateiro ou as sopas de peixe.

Sobre a mesa não deverá faltar, também, o vinho da região, que mistura a antiguidade de Carcavelos e Colares, uma das primeiras regiões demarcadas do país, com outros projetos interessantes mais recentes, alguns inseridos na tendência dos chamados vinhos naturais, ou sem intervenção, casos de Vale da Capucha, Casal Figueira ou Encosta da Quinta. Pelo meio, encontram-se também nomes respeitados no campo da enologia mais conservadora, como a Quinta do Monte d’Oiro, de José Bento dos Santos, ou o Casal de Santa Maria, que tem algumas das vinhas mais ocidentais da Europa continental.

Tiago Pais - Jornalista