OS PRODUTORES
VALE DA CAPUCHA
Torres Vedras
O Produtor
leva-nos a dar uma volta na vinha, depois vamos à adega nova, onde hoje se fazem os vinhos, à adega velha, onde descansam as garrafas da sua coleção, abrem-se garrafas, conversa-se, come-se (sempre maravilhosamente), e todos nós à sua volta nos relembramos porque é que gostamos tanto de vinho. Porque o vinho é mesmo uma coisa apaixonante... O Pedro respira e transpira essa paixão em cada garrafa que abre numa mesa de amigos.
Trabalhou em algumas adegas renomadas no EUA, na Nova Zelândia e em Portugal. É enólogo de formação e foi enólogo de profissão até ao dia em que abraçou o desafio de iniciar um projeto vinícola nos terrenos que a família tinha em Torres Vedras, onde antes o seu trisavô produzira vinho para vender a granel. A partir desse dia deixou de ser enólogo para ser produtor. Cuidador de uvas, fazedor de vinho.
Foi nos anos 2000 que se deu a mudança. Em 2006 a vinha foi plantada numa extensão de 12 hectares inseridos na propriedade familiar; se por um lado foi importante arrancar a vinha que estava repleta de castas híbridas*, por outro, havia uma carência de termo de comparação na região - muito vinho a granel e poucos produtores engarrafadores cujos vinhos tivessem sobrevivido ao tempo (exceção feita a Colares, a Bucelas, e a alguns projetos pontuais como o Casal Figueira e a Quinta da Serradinha). Nas brancas optou por um misto entre as uvas da região (Arinto e Fernão Pires), e algumas suas prediletas (Alvarinho, Gouveio, Antão Vaz, Viosinho e Viognier. Nas tintas foi mais radical e plantou essencialmente Touriga Nacional, Tinta Roriz e Syrah. Mais tarde alugou uma vinha de Castelão que hoje tem um papel importante na sua produção de vinhos tintos.
Foi muito difícil vender as suas primeiras colheitas em Portugal. Em 2012, quando lançou o seu primeiro vinho (colheita de 2009), o gosto dos portugueses ecoava os perfis supertoscanos mais concretizáveis em regiões quentes como o Alentejo e o Douro. “Ninguém queria saber dos vinhos de Lisboa. Nessa altura, eu e o meu irmão (Manuel Marques, corresponsável pela produção e gestão do enoturismo do Vale da Capucha), visitámos algumas capitais europeias de mochila às costas, com meia dúzia de garrafas para dar a provar”. Fizeram da adversidade uma vantagem, conquistaram o público de Londres, Paris, Berlim, Copenhaga, e quando já vendiam vinho para os quatro cantos no mundo, o mercado português começou a dar-lhes a atenção devida.
A vinha situa-se a 8 quilómetros do mar, numa das regiões mais ventosas do país que beneficia de um Verão ameno, com manhãs e noites frescas. Os solos são argilosos e a base rochosa é o calcário; a vinha, pejada de fósseis que saltam da terra para o rótulo, transporta essa aura geológica e climática para o vinho.
O método: preferência por barricas e recipientes pequenos para a fermentação dos brancos (algum inox loteado no Fóssil), um trabalho de 10 anos sobre (o mais sublime será o Arinto, mas o Gouveio e o Alvarinho dão-nos uma perceção nova das castas), e uma solera (Branco Especial) que é sem dúvida um dos vinhos da década na região de Lisboa. Os tintos fermentam em depósitos de cimento, no caso do Castelinho com maceração semi-carbónica.
*as castas híbridas são cruzamentos de vitis vinífera com outras vitis (geralmente vitis lambrusca) que foram plantadas massivamente nas regiões contíguas à cidade de Lisboa, entre o final do século XIX e os anos 50 do século XX. Estávamos no princípio da era industrial e da intervenção enológica em Portugal. Estas uvas são, geralmente, muito resistentes às doenças e bastante produtivas, razão pela qual foram uma opção tão válida em determinada época. Hoje sabemos que carecem de complexidade, e que o mosto que delas resulta não consegue produzir uma bebida com a estrutura daquilo que entendemos por vinho.