As menções à região das Beiras vêm, demasiadas vezes, associadas a termos como desertificação e envelhecimento. Reportagens sobre terras abandonadas e aldeias com menos de cinco habitantes são tão frequentes acontecerem por estas bandas como são, infelizmente, os trágicos incêndios a cada verão.
Mas as Beiras merecem mais e melhor. E merecem, sobretudo, que se valorize o seu belíssimo território, que inclui serras e vales a perder de vista, quedas de água de postal, ribeiras e praias fluviais dignas de incontáveis mergulhos e banhos de sol. Por entre estradas serpenteantes encontramos aldeias de xisto e de granito muitíssimo bem conservadas ou cidades históricas cheias de motivos de interesse. Também não faltam, claro está, produtos de enorme qualidade, muitos deles feitos ou cultivados através de métodos artesanais.
Os amantes de queijo, por exemplo, dificilmente serão tão felizes noutras paragens. É que das Beiras, além do egrégio Serra da Estrela DOP, o mais antigo e afamado de todos os queijos nacionais, vêm também os três DOP da Beira Baixa: o Queijo Amarelo, o Queijo de Castelo Branco e o Queijo Picante. O soro que resulta do fabrico desses queijos é usado para a famosa Travia da Beira Baixa DOP, um requeijão de enormíssima qualidade.
Ainda na Beira Baixa, os famosos Maranhos e Bucho da Sertã são exemplo do aproveitamento total dos produtos da matança, tanto do porco (bucho), como de ovinos e caprinos (maranhos), usando e abusando da criatividade no recheio. Mas não são exemplo único. A região no seu todo é farta em bons enchidos, mesmo dos mais tradicionais: se na zona da Guarda, por exemplo, pontificam umas famosas morcelas, o Sabugal, mais junto à fronteira, é terra de excelente paio e chouriço.
Mas se a charcutaria é património, as árvores de fruto também são. A maçã Bravo Esmolfe DOP, originária da zona de Penalva do Castelo, é única no país, com o seu perfume intenso reconhecível à distânica. A maçã da Beira Alta IGP, não tendo a fama desta, é igualmente apreciada pela sua doçura. Na Cova da Beira, entre as serras da Gardunha, Estrela e Malcata, há maçãs e pêssegos IGP e, entre abril e julho, cerejas com a mesma distinção mas sem o marketing das vizinhas cerejas do Fundão.
Dos pomares para os olivais: os azeites da Beira Interior são, também eles, um produto DOP, comercializados sob diferentes marcas, como é o caso da Fio da Beira, de Castelo Branco ou o Ethos, produzido no concelho da Guarda.
Já os vinhos da região – cuja estrutura fundiária assenta, historicamente, no minfúndio – têm surpreendido cada vez mais, sobretudo aqueles que provêm de vinhas de altitude, como é o caso da Quinta do Cardo, vinhos biológicos que acompanham bem alguns dos pratos mais afamados da gastronomia beirã como a vitela à moda de Lafões, o cabrito assado ou estonado (em Oleiros), o ensopado de borrego (produto IGP) à moda das Beiras, as feijocas à pastor ou, de sobremesa, a deliciosa tigelada.
Tiago Pais - Jornalista