Tudo sobre Bacalhau

Tudo sobre Bacalhau

A PraçaDec 3, '20
PORQUÊ O BACALHAU EM PORTUGAL?
Diz a história que quando os portugueses tentavam encontrar o caminho
marítimo para Índia por Oeste, Séc. XV, acabaram por ancorar num local chamado de
Terra Nova, que hoje pertence à província Terra Nova e Labrador, no Canadá. Foi neste
ponto que a pesca do bacalhau, nas águas geladas do Atlântico Norte, começou. No
entanto, a captura deste produto já antecedia o século XV.
  Os vikings, exploradores, comerciantes e piratas nórdicos que invadiram,
exploraram e colonizaram áreas da Europa e das ilhas do Atlântico Norte, são
considerados os pioneiros na descoberta do bacalhau do Atlântico (gadus
morhua). Como estes povos não tinham sal, secavam o peixe ao ar livre, e consumiam-
no durante as longas viagens marítimas.
  O bacalhau não é de todo abundante na costa portuguesa. Assim, aquando da
descoberta, por acaso, da Terra Nova, os portugueses decidiram investir na pesca
deste produto. Com a Era dos Descobrimentos, as embarcações, que estavam a ser
utilizadas para a pesca de bacalhau, eram necessárias para a descoberta das rotas
comerciais e de novos países. É na sequência deste impasse que surgem os acordos
políticos e mercantis estabelecidos com a imponente Inglaterra.
  Portugal e Inglaterra, em pleno Séc. XIV, estabeleceram um precioso acordo.
Corria o ano de 1386 quando o Tratado de Windsor foi assinado por estes dois países,
consolidando uma estreita aliança política, militar e comercial. A aliança de 1386 é
considera a mais antiga do mundo e, ainda, continua em vigor.
Havia na altura um mercador português chamado Afonso Martins Alho. Este
comerciante, era uma pessoa letrada e influente em Portugal e tinha especial
afinidade com a língua inglesa. Consequentemente, em nome do rei português,
assinou, com Eduardo III rei de Inglaterra, o primeiro tratado de comércio e
pesca entre estes dois países. Numa altura em que o aclamado vinho do porto
começava a ganhar destaque, os ingleses, uma das nacionalidades que mais apreciava
esta bebida, oriundo do Douro português, tinham todo o interesse em chegar a um
consenso comercial com os lusitanos. Claro está que a moeda de troca para o Vinho do
Porto era a pesca do bacalhau no Mar do Norte e Terra Nova que depois chegava,
salgado, a Portugal.
Diz-me que a por ser um hábil negociador, a expressão “fino como um alho” vem desta
altura, como uma homenagem a Afonso Martins Alho. Talvez seja por isso também
que bacalhau e alho combinam na perfeição ��
 
PORQUÊ O BACALHAU NO NATAL?
Devido ao seu porto marítimo e estratégica localização geográfica, as trocas
comerciais eram realizadas no Porto. Chegavam ao Porto o bacalhau e o sal de
Inglaterra e, por sua vez, o vinho que lhe toma o nome era exportado, deste ponto,
para Inglaterra. Graças a este facto, a presença do bacalhau nos pratos gastronómicos
desta região é inegável. Esta cidade foi a incubadora de muitas das receitas que
destacam o peixe-rei da mesa portuguesa. Bacalhau à Braga, Bacalhau com
Todos, Bacalhau à Zé do Pipo, Bacalhau com Broa, Bacalhau à Joao do Porto, etc..

  Ao longo do tempo, a introdução do bacalhau no assinalamento de épocas
festivas passou a ser regra. Na região norte de Portugal, a familiaridade com este
produto era maior. Desta forma, não é de estranhar que, neste pedaço de território,
existam mais ocasiões onde o bacalhau é o protagonista; o Natal é apenas uma delas.
   O norte do país mantém a tradição de consumir bacalhau no Natal, visto que
este produto chegava primeiro a esta região; a comercialização para outras localidades
era mais demorada. Por Portugal fora, vão existindo algumas variâncias do elemento
de destaque da consoada. Há quem coma polvo, mais a sul, caras de bacalhau – em
vez de postas -, na região mais central, e há ainda quem opte pelo frango recheado. No
entanto, não há português que resista a um belo prato de bacalhau,
independentemente da ocasião. É um peixe que simboliza a tradição.
  Se antes o bacalhau era visto como um ingrediente barato e depreciativo, nos
dias que correm é considerado o monarca poderoso da identidade gastronómica
portuguesa. É o rei do prato.