OS PRODUTORES
TIAGO TELES
Bairrada e Vinhos Verdes
O Produtor
foi engenheiro de redes até 2020. Mas esperem… quem fez o Coz’s 17, o Raiz 15 e o Gilda 12…? O engenheiro de redes. Durante os anos em que viveu em Paris (década de 2000) e trabalhou numa empresa de telecomunicações, desfrutou intensamente a vida dos bares de vinho parisienses, onde começava a surgir uma coisa com cara de movimento que dava pelo nome de “Vin Naturel”. Por essa altura teve dois blogs que deram que falar, “Os5às8” e “Nova Crítica”. Dos vários textos que redigiu nessa época, resultou uma compilação chamada “Vinhos com Terroir”, um dos mais filosóficos ensaios que se escreveu, sobre vinho, em Portugal. Mas na década seguinte a história foi outra…
Em 2012 largou as letras e começou por comprar uvas ao amigo Carlos Campolargo para fazer os vinhos Gilda e Maria da Graça, na Bairrada. Vinhos leves que expressam a frescura da região, com a rara condição de não terem a habitual casta Baga. Em 2015, para sua grande alegria, uma pequena propriedade que pertencia à família materna, em Arcos de Valdevez - região dos Vinhos Verdes – foi recuperada. Aí pode dedicar-se aos vinhos Raiz, onde o Loureiro ganha uma dimensão aromática mais apelativa que na maioria dos exemplares da região, devido, entre outras coisas, à longa maceração a que é sujeito.
Ainda assim, o Tiago preferiu continuar a morar em Lisboa, e nunca desejou ser um produtor remoto, ou fazer vinho só em Setembro. Por seu turno, o amigo António Marques da Cruz precisava de embarcar num novo projeto vínico que pudesse suprir as limitações de área da sua Quinta da Serradinha, em Leiria. Fizeram as contas e compraram uma vinha na Serra de Montejunto, exatamente a meia distância entre Lisboa e Leiria. Aqui são viticultores a tempo inteiro - construíram uma adega, e criaram uma rede de produtores locais com quem cooperam, comprando uvas, e incentivando a reabilitação de vinhas velhas, e a prática da agricultura biológica.
A paisagem de Montejunto é um oásis de clima atlântico, temperado, com uma altitude algo rara para a região (cerca de 400 metros), solos argilo-calcários e uma tal casta Vital. O trajeto rural/urbano de Montejunto ao centro de Lisboa, demora-lhe, exatamente, 50 minutos. Durante o dia cava a terra, faz podas e enxertias; à noite ainda tem tempo para beber um copo de vin naturel ici à Lisbonne.
O método: No Raiz, as uvas são esmagadas e colocadas em depósitos de cimento em forma de ovo (com peles e engaço), e daí o vinho só sai 6 meses depois, momento em que acontece a prensagem, para continuar o estágio sem “a mãe”. As castas Loureiro, Trajadura e Padernã são colhidas ao mesmo tempo e co-fermentadas. O Raiz tinto é um vinho itinerante à procura de casa. Começou por ser um Vinhão do Minho, passou depois a Alfroucheiro da Bairrada, e atualmente é feito com Syrah em Lisboa, com as uvas da Quinta da Murta, onde se situa a adega; mas há muita estrada para fazer, e ainda pode chegar ao Algarve. Nos COZ’s, no Cadaval, todos os vinhos são pisados a pé, brancos e tintos. Os vinhos de vinha própria (vinha da Pena e vinha do Outeiro), fermentam e estagiam em barrica, enquanto que os brancos de uvas compradas à POPulação do Cadaval, COZ’s POP, são vinificados em cubas de cimento de 5000 litros. Os tintos são essencialmente Castelão da Quinta do Olival da Murta, que macera durante alguns dias e faz estágio em barrica