OS PRODUTORES

ANTÓNIO MADEIRA

Serra da Estrela - Dão

O Produtor
não tinha vinha, não tinha adega, não tinha terras, não tinha nada… Aliás, tinha uma coisa: orgulho. O orgulho característico de quem nasce num lugar, mas sabe que pertence a outro. António Madeira nasceu em Paris, mas é filho de portugueses oriundos da região do Dão. Na juventude visitava a terra dos pais, durante o Verão, sem qualquer vínculo físico ou afetivo ao vinho e à vindima. Foi em Paris que se enofilizou. Depois de formar um clube de prova entre amigos, e aprender mais e mais sobre a bebida, passou a visitar a terra familiar com outros olhos. Desde 2010 que faz vinho na região e, a partir de 2016, mudou-se definitivamente para o Dão para cuidar das vinhas velhas que foram sendo abandonadas pelos agricultores locais.

As vinhas do António estão localizadas na zona mais oriental do Dão, contíguas ao concelho de Seia. Clima continental, solo granítico; o António acredita que o Dão é uma das regiões portuguesas com maior potencial para produzir grandes vinhos de guarda (não da Guarda, mas de guarda, para guardar…) Baseou esta ideia, primeiramente, na prova dos clássicos da região, como os do Centro de Estudos de Nelas dos anos 70. Depois, aprofundando a sua relação com o terroir, foi entendendo de que forma as características do lugar garantem longevidade a estes vinhos. “Aqui as noites são frias o que fomenta uma maturação lenta e a manutenção da acidez natural da uva, que vai conservar o vinho.” Outra razão é a presença da casta Baga nas vinhas mais velhas do Dão. “Existem mais clones de Baga no Dão do que na Bairrada, mas a Bairrada tem, há muitos anos, cultura de monocasta, ao passo que o Dão até há bem pouco tempo tinha cultura de blend.” Nas suas vinhas, onde possui mais de 40 castas diferentes, a Baga poderá ser a terceira mais preponderante.

Os seus vinhos colheita são produzidos a partir de uvas que compra aos agricultores locais. Os restantes, onde se vê inscrita a palavra “DÃO” em letras grandes, são os vinhos feitos a partir das vinhas cultivadas pelo próprio António – todas elas antigas, entre os 50 e os 120 anos, (o António chama-as o seu “museu vivo”, e enquanto houver produtores a abandonar ou a não poder cuidar de vinhas, ele preferirá sempre as velhas, à hipótese de uma vinha nova plantada por si).

O método: Os seus brancos estagiam, parte em inox e parte em barrica, sendo que a diferença fundamental entre eles, está mais na expressão das características de cada parcela do que nos recipientes usados para a vinificação. No caso do Liberdade (que é um vinho sem sulfitos adicionados), a sua preferência recai no inox. Nos tintos, o António consegue - como ninguém - casar a elegância com a rusticidade. Os vinhos são totalmente desengaçados, e a maceração é bastante suave, porém, o resultado da mistura de castas e, obviamente, da fermentação espontânea, vão inevitavelmente recordar-nos o vinho do tempo dos nossos avós. O estágio é feito em barrica (nunca menos de um ano e meio), e são as fissuras do carvalho que vão amaciar o tanino da Baga.

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