OS PRODUTORES
VÍTOR CLARO
Alentejo e Lisboa
O Produtor
é um cozinheiro de mão cheia e foi, durante alguns anos, um dos mais notáveis chefes de cozinha da cena gastronómica portuguesa. No início dos anos 2000, com pouco mais de 20 anos de idade, fez uma pequena revolução na restauração lisboeta, com posto de comando na rua do Século, Bairro Alto. Chamava-se “Pica no Chão”. Os que o visitaram dizem que foi uma lufada de ar fresco a cada garfada. De lá partiu para Espanha, depois Inglaterra e, quando regressou, conduziu cozinhas no Alentejo, Porto e Lisboa, nas quais liderou e inspirou uma geração de cozinheiros que hoje estão um pouco por toda a parte.
Chegou ao vinho através da cozinha pela mão do seu mentor e amigo Dirk Niepoort que lhe apresentou a beleza dos vinhos finos e elegantes. Quando trabalhou na Herdade da Malhadinha, onde também se produzia vinho, percebeu que o vinho que queria fazer não tinha nada a ver com o que se fazia na altura. Vinhos extremamente encorpados, extremamente alcoólicos e extremamente amadeirados. Ele queria fazer vinhos leves, finos, com uvas e pronto… Encontrou uma vinha muito velha num passeio que deu no Alto Alentejo, e pediu para tomar conta dela. Foi assim que começou a fazer vinho em 2010. A forma de chegar à leveza pretendida passou essencialmente por colher a uva um pouco mais cedo que os vizinhos. “Há 10 anos atrás era o único na Serra de São Mamede a colher a uva na última semana de Agosto; hoje em dia, (os outros produtores da região) para além de já não acharem que sou maluco, muitos colhem ao mesmo tempo que nós.”
O aprofundamento no vinho foi mudando a maneira como cozinhava. Encarava a cozinha de forma cada vez mais simples. Procurava na cozinha, cada vez mais, a síntese que encontrava no vinho. Uvas e pronto… Um dia, o vinho mudou tanto a maneira como cozinhava que acabou por parar de cozinhar de todo. Desde 2016 que se dedica apenas ao vinho, em parceria com a sua mulher, Rita Ferreira, com quem descobriu - no contacto com a natureza, no trabalho monitorado pela luz solar, e na qualidade do ar que se respira – a grande beleza dos pequenos projetos familiares.
O Vítor e a Rita são aficionados, e não resistem em buscar estilos diferentes de um vinho para outro. A maneira que encontraram para o fazer passa por explorar diferentes terroir; cultivam vinhas no Alto Alentejo e em Lisboa, uma vinha continental, outra atlântica. Cuidam dos solos, fazem as podas, os tratamentos e a vindima. Também compram uva pontualmente para complemento do seu espólio de vinho, já que começaram os dois literalmente do nada. Sem histórico de vinho na família ou património vitícola herdado.
O método: Da vinha da aldeia de Salão Frio, em Portalegre, Serra de São Mamede, resultam sempre cofermentações de imensas castas, já que a vinha é antiquíssima (foi plantada nos anos 30). Os períodos de maceração variam e quase todos os seus tintos têm uva branca à mistura. Nos vinhos costeiros as experiências são quase sempre monovarietais. Em Carcavelos, uma das regiões demarcadas mais fustigadas pela pressão imobiliária, o Vitor e a Rita recuperam uma das últimas vinhas existentes, e procuram perceber que vinhos se podem fazer desta região sobre a qual já pouco se sabe.